A história de Costanza Pascolato com a moda começou por intermédio de seu pai, Michele Pascolato, que fundou a fábrica de tecidos Santaconstancia, hoje comandada por ela. Um dos ícones de elegância do Brasil, Costanza nasceu na Itália e chegou com sua família a São Paulo, em fevereiro de 1946, fugindo da Segunda Guerra Mundial. Aos 65 anos, não tem qualquer constrangimento em declarar a idade, ao contrário de várias mulheres de sua geração. “Acho que estou tão bacaninha”, orgulha-se. Costanza foi casada três vezes – o último casamento, com o compositor, produtor e escritor Nelson Motta, durou seis anos e acabou em 2001 –, é mãe de duas filhas e avó de uma menina e um menino. Integrante da Academia Brasileira de Moda, atualmente roda o País divulgando seu segundo livro, Como Ser uma Modelo de Sucesso, e fazendo palestras. O primeiro, O Essencial, que foi lançado em 1999, dá dicas sobre moda e estilo.
Qual é o grande luxo hoje em dia?
É se tratar e parecer jovem. Esse deve ser o maior investimento da mulher, porque é o que conta, o resto é acessório. A partir daí você deve começar a colecionar coisas que lhe fiquem bem. Eu acho hoje que é melhor ir a uma festa com uma roupa mais velha com que eu me sinta bem e investir mais nos acessórios colocando-os de uma forma especial, que vai ter a minha cara, o meu jeito. Eu não deveria nem falar isso porque vendo tecidos (risos).
O que se usa hoje?
Hoje o luxo é misturar uma coisa cara, um Prada, um Armani, com peças bem-humoradas e baratas de brechó, da C&A, das feiras. Isso é que dá o tom pessoal, o jeito diferente sobre o qual eu estava falando. Hoje conta mais o seu desejo de criar uma maneira diferente de ser do que propriamente desfilar por aí só com roupas de grife.
Quer dizer que é possível fazer bonito usando coisas baratas?
As lojas mais populares, como C&A, Riachuelo, Renner e outras,
estão todas com moda mesmo, não é mais roupa. A verdade é que
hoje você pode se vestir dentro da moda, bonitinha e graciosa, com coisas bem acessíveis. Isso é muito democrático e está aconte-
cendo no mundo inteiro.
O que se usa nas ruas está bonito, na sua opinião?
Eu aconselho as pessoas a se olharem mais no espelho. Vejo cada coisa!! Usam calças justas demais, de tal forma que as que têm o manequim 2 ou 200 usam o mesmo número. Não dá! É uma coisa exagerada isso que existe aqui no Brasil. Se elas soubessem como sofreriam menos e como ficariam mais bem vestidas com números um pouquinho maiores! Eu acho que elas devem ficar exaustas quando chega o fim do dia (risos).
O que você acha das batas que estão na moda?
Achei que as batas não iam pegar no Brasil porque elas são meio largas na cintura. Mas como elas ficaram curtas, deixaram aparecer a barriguinha, que continua sendo o foco das meninas. Assim, as batas ficaram sensuais. Mas eu já acho que elas estão virando lugar comum.
É que as brasileiras têm mania de deixar o corpo à mostra.
Ninguém mostra a pele tão bem como as brasileiras. Vocês não
sabem o que é a diferença entre uma brasileira e uma comum mortal
de outro país (risos).
Qual é a diferença entre as brasileiras e as estrangeiras?
É uma coisa quase impossível de explicar. Acho que aqui no Brasil as mulheres têm mais intimidade com o calor. Usam decotes que uma estrangeira ficaria toda atrapalhada para se mexer, e fazem isso com muita naturalidade! É provocante porque é bonito, não é vulgar. Eu acho que as brasileiras conseguem vestir coisas que em outras mulheres do mundo seriam vulgares, não pela roupa em si, mas pela atitude. E hoje a história da atitude não pode ser desligada da roupa de jeito nenhum.
Como assim?
Cada vez usa-se menos roupa. Imagine uma mulher nos anos 1950, o mesmo clima, mesmo país, só que naquela época elas usavam chapéu, luvinhas e saias rodadas, isso sem falar que no século anterior elas andavam de veludo no Rio de Janeiro. Hoje não. A roupa cobre apenas o corpo, usa-se menos pano, porque na verdade o que vale é a atitude, o corpo bem tratado. Hoje é mais importante você parecer jovem e bem tratada do que parecer rica.
|
Mas você considera a brasileira elegante?
Eu não sei bem o que é uma elegância, mas as brasileiras fazem sucesso no mundo inteiro porque têm bossa, têm ginga e são hiperfemininas. Essa coisa da feminilidade, que eu não sei explicar em quatro palavras, é fundamental no comportamento, no jeito que se mexe, no gesto, no sorriso.
Isso reflete nas modelos que o Brasil está exportando?
Claro. Não é difícil perceber quem é a brasileira quando estão todas juntas numa agência à espera de um teste ou mesmo no backstage
dos desfiles de moda. São todas lindas de morrer mas você vê a diferença. A européia, especialmente a do leste europeu, tem um olhar triste, e as demais são quietas. A brasileira, ao contrário, é animada, brinca, puxa conversa, faz graça, faz poses, caras e bocas e des-
contrai o ambiente. São mesmo encantadoras.
Que tipo de conselhos você dá às aspirantes a modelo em seu novo livro?
Falo como elas devem se defender numa profissão que exerce uma pressão enorme quando elas ainda estão muito novas. Quem é você
aos 14 anos? Elas vivem longe de casa dividindo apartamento com outras meninas no Japão, nos Estados Unidos, na Europa, sem falar línguas e sem ter tido uma educação especial para isso. É uma
solidão que ninguém imagina.
Quais são os problemas que elas têm de enfrentar?
O primeiro problema grave que todas enfrentam é o da rejeição. Eu sempre digo a elas no início da carreira: você sabe o que você vai ser? Você vai ser um produto, você não é uma pessoa mais, você é apenas um cabide. É melhor ela pensar assim, se despersonalizar, para não ficar tão vulnerável à rejeição.
E acontece com todas as modelos essa rejeição?
O tempo todo. A Gisele Bündchen, que é esse fenômeno, foi e ainda hoje é rejeitada, só que agora por causa do cachê, que é muito alto. Então ela acaba perdendo muitos trabalhos. No começo da carreira também, ela passou um ano morando em Nova York sem fazer nada. É assim mesmo.
Como ocorre a rejeição?
Os responsáveis pela escolha das modelos começam a falar delas como se elas não estivessem ouvindo. Um fala que ela não serve, outro diz que o nariz é grande, que a perna é curta, que o cabelo é isso ou aquilo. Então elas não devem se julgar pelo que ouvem. Elas não devem se sentir alijadas do mundo, rejeitadas, mas devem, ao contrário, ter perseverança e se aprimorar cada vez mais, assim como fez a Gisele.
Você é a favor das cirurgias plásticas?
Até uma certa idade sim, depois não. Eu, por exemplo, não posso mais fazer. Fiz em 1983, aos 40 anos. Tirei as bolsas dos olhos. Mas acho que hoje as pessoas fazem plástica quando estão infelizes.
Qual a alternativa?
Eu prefiro as soluções como botox e preenchimento com gorduras só para ficar com a carinha mais descansada. A plástica é radical e definitiva. E se você não gostar? Eu ficaria muito infeliz. Também não quero coisas impossíveis. Não quero, por exemplo, me casar com uma pessoa que tem 30 ou 20 anos menos do que eu. Tenho outros interesses que são totalmente satisfatórios e agradáveis, tanto que me sinto muito feliz. Estou vivendo um dos períodos mais tranqüilos e felizes da minha vida.
Você está namorando?
Não. Estou sozinha mas a essa altura acho que é melhor assim. Como dizia (a atriz) Marlene Dietrich: “Too young, what a pity, too old, what a pity” (muito nova, que lástima, muito velha, que lástima). Você tem que ficar bem para ser aprovada por aquela pessoa que você encontrou agora. Se eu tivesse crescido na vida com uma pessoa que me conhece há muito tempo e que me aceita como eu sou, OK. Mas isso na minha idade dá muito trabalho.
O Nelson Motta, com quem você foi casada durante seis anos, vai se casar com uma mulher 30 anos mais jovem.
Mas homem é diferente porque é a mulher que se ocupa dele, não é ele que vai cuidar dela. O Nelson faz muita coisa, tem muito talento, se mexe muito, então precisa de alguém com tempo integral para organizar a vida dele. Acho que ela nem trabalha (Adriana Penna foi até outubro do ano passado consultora de marketing da Sony Music).
Isso é injusto, na sua opinião?
Ah, eu nem julgo. Mas para que eu quero alguém? Não estou nem aí. |
|
|
|
|